DAMIANI,
Amélia Luisa. População e geografia. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2011.
Gisele da Cruz Vasque
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG
O conceito de população se reformula e agrega vários
significados no decorrer da história, sendo discorrido por Damiani a concepção
de população a partir do século XVII sob a visão malthusiana, até o século XX
através da visão marxista.
Malthus defende que a miséria seria um ponto de
equilíbrio no crescimento populacional. Para ele, a população cresceria em
ritmo geométrico e a oferta de recursos naturais em um ritmo aritmético, ou
seja, se todos consumissem igualitariamente à burguesia, a quantidade de alimentos
disponíveis não seriam suficientes a todos, em contrapartida entra a miséria
causando fome, epidemia e guerras adoecendo a população, consequentemente uma
taxa de mortalidade elevada, portanto, equilibrando o crescimento populacional.
Marx define população diferentemente de Malthus, leva em
consideração não mais a relação entre população e alimentos, mas sim, a
população e oferta de trabalho.
O avanço tecnológico exige o emprego de mais máquinas,
consequentemente, menos uso de mão-de-obra. Fato que se deu início na Revolução
Industrial e presente até os nossos dias atuais.
Os trabalhadores descartados deste processo nem sempre
são realocados, formando uma reserva disponível, pronta para ser usada a
qualquer momento, conforme as necessidades apresentadas pelo mercado.
Estratégia usada pra manter os salários baixos e sempre ter disponibilidade de
mão-de-obra, possibilitando assim, o crescimento do mercado, sem que haja a
preocupação com oferta de mão-de-obra.
Este excedente assombra o trabalhador formal que para
manter seu emprego, submete-se a intensas horas de trabalho comprometendo sua
qualidade de vida.
Assim traça-se o perfil do trabalhador assalariado: um
homem miserável assombrado pela possibilidade se sua expulsão através do avanço
tecnológico (substituição de sua força de trabalho pelo uso de máquinas) e pelo
excedente de mão-de-obra.
Após a segunda guerra mundial, a teoria malthusiana ressurge
adaptada aos avanços tecnológicos, denominada agora de teoria neomalthusiana
que faz um comparativo entre a quantidade populacional com a disponibilidade de
recursos naturais, sendo, uma ideologia que reflete em políticas públicas
eficazes.
O crescimento populacional tinha aspecto positivo nos
países da Europa na década de 20, e com o decorrer do tempo, começa surgir uma
preocupação quanto ao decréscimo constante da taxa de natalidade.
Já nos países desenvolvidos a taxa de natalidade era
altíssima e somada à queda da taxa de mortalidade que houve em decorrência ao
acesso á técnicas de higiene e tecnologias nos setores alimentício e médico-hospitalar,
resultou na explosão demográfica e para reverter este quadro, foram adotadas
medidas de controle de natalidade, fomentando o planejamento familiar atingindo
vários países do “terceiro mundo”. Esta estratégia de esterilização da
população foi fomentada pelo Banco mundial e FMI que ao oferecer empréstimos a
estes países, exigiam do governo o emprego de políticas públicas no controle da
natalidade de sua população.
A superpopulação, nos países subdesenvolvidos eclodia o
problema da escassez de alimentos e nos desenvolvidos começou a existir a
concentração da população urbanizada o que ocasionou na supervalorização de
alimentou que antes eram abundantes como água, luz, espaço, etc. gerando altas
cobranças pelos serviços.
A partir dos anos 50 acentua-se um extremo comparando
países subdesenvolvidos e desenvolvidos, nos primeiros há uma miséria acentuada
desencadeada pelo desencontro do crescimento populacional e desenvolvimento socioeconômico,
e nos últimos há um intenso desperdício provocado pelo consumismo desenfreado.
A dinâmica populacional é composta por elementos como a
natalidade, mortalidade e a migração da população e a partir do estudo e
comparação destes dados é possível traçar um perfil qualitativo comportamental
da população, como por exemplo, a relação entre o aumento do nível de
escolaridade e redução do número de filhos.
A taxa de mortalidade seria expressa pelo número de óbitos
multiplicados por mil e dividido pelo número da população total:
Nº de óbitos x 1000
População total
Esta taxa ilustra a expectativa de vida ao nascer, e
assim, identifica o perfil socioeconômico de cada país, portanto, se a taxa de
mortalidade é alta, resulta na redução da expectativa de vida, sendo uma
característica de um país subdesenvolvido, mas se o país apresenta uma taxa
baixa, pressupõe-se que é um país que oferece maior qualidade de vida para seus
habitantes, sendo assim, uma característica de um país desenvolvido.
A taxa de natalidade seria expressa pelo número de
nascimentos multiplicados por mil e dividido pelo número da população total:
Nº de nascimentos x 1000
População total
Sua variação também identifica o perfil socioeconômico
dos países estudados, ou seja, se o país apresenta uma taxa de natalidade alta,
sabemos que estamos falando de um país subdesenvolvido, mas se for baixa,
ilustra as características de um país desenvolvido.
O desenvolvimento do capitalismo desencadeou um grande
fluxo migratório, tornando a migração mais um componente das dinâmicas
populacionais.
A
migração tem um caráter estratégico no desvendamento da relação entre a
dinâmica populacional e processo de acumulação de capital, para além da
concepção de crescimento natural.
Em análise ao fluxo migratório presente nos países da
Europa e América Latina, autores como Pierre George definem migração muito além
de apenas deslocação humana, mas como irradiação geográfica de um sistema econômico
e estrutura social.
Movimentos que comprovam o processo de expropriação e
exploração latifundiárias e trabalhistas, tendo como estímulo tanto as
migrações internacionais, como as migrações internas (rural-urbana e
rural-rural), marcaram o desenvolvimento do capitalismo em países como o
Brasil.
A migração tinha caráter secundário até os anos 60, tendo
partir daí uma inversão: o crescimento natural aparece como subordinado da
análise da migração.
Portanto, segundo Damiani, abrem perspectivas de análise
dos dramas humanos, nascidos das contradições e constrangimentos recentes de
nossa sociedade, e das relações e valores, que, de maneira deteriorada ou não,
são preservados, definindo os termos da reprodução e da vida.
A análise da demografia traz como benefício, um
mapeamento quantitativo como também qualitativo, traçando o perfil econômico
mundial. Auxiliando assim, na elaboração de estratégias no controle do
movimento populacional, como por exemplo, o fomento à migração em países
desenvolvidos por apresentarem população economicamente ativa baixa, ou o
fomento ao planejamento familiar em países subdesenvolvidos, por apresentarem
uma grande taxa de natalidade, ou no planejamento de construção e oferecimento
de serviços públicos como escolas, hospitais, etc.
O conceito de população é um método de conhecimento e
controle sobre as pessoas, porém, não carrega consigo uma carga histórica, daí
a necessidade de substituí-lo por outro conceito que possibilitasse a agregação
da história humana.
Assim, foi substituído pelo conceito de produção do
homem, tendo em vista que o homem, como também a história, e mutável, estando
em um processo de mudança constante.
O homem é ser integrante da natureza, e seu
desenvolvimento está voltado na relação entre si e a natureza como também na
relação com outros semelhantes a si.
Com sua racionalidade e através de instrumentos e
técnicas adquiridas historicamente, sobrepõe-se à natureza extraindo recursos
que ela lhe oferece, a fim de satisfazer seus desejos e necessidades. E no
sentido de atender estas necessidades aprimora suas tecnologias, criando
“objetos sociais e abstratos”, como por exemplo, o mercado ou o desenvolvimento
da indústria.
Neste contexto percebemos que a atividade humana é
fundamentada na relação social e na coletividade, ou seja, o homem não vive só,
é um ser social.
Na prática da produção, o homem se depara com uma relação
dicotômica simultânea. Produção compreende a domínio, porém, compreende também
à alienação. O primeiro está ligado à natureza e o segundo a sua própria
produção.
Como em todas as relações humanas, na produção não seria
diferente. Em analise aos fatos históricos de seu desenvolvimento, o homem
sempre produziu e produzirá em detrimento de algo, como por exemplo, a
exploração do trabalhador assalariado, pontuando também que esta condição de
menoscabo, não se aplica apenas aos menos favorecidos, a situação que também
exemplifica é a alienação ao consumismo das classes com mais poder aquisitivo,
inculca-se a ideologia de quanto mais o homem produz, mais precisa consumir,
sempre sem levar em conta sua posição humanizada, mas sim sua posição puramente
consumista, ou seja, o consumismo irá impactar as relações humanas.
Deste modo, fortalecem-se os contrastes dessa produção,
criando de maneira regionalizada, carências que vão sendo superadas e
substituídas por outras mais complexas, concomitantemente à evolução humana.
No Brasil, vivenciamos carências que condizem a um
período de equivalência ultrapassada comparando sua atualidade com a dos países
desenvolvidos, todavia, vivenciamos uma evolução tecnológica semelhante aos
mesmos.
Com a urbanização
da produção e para atender as necessidades de mercado, ocorre uma “castração”
da classe trabalhadora, ou seja, fatores como a integração da mulher no mercado
de trabalho e o fomento do Estado à ideologia neomalthusiana, ocorreu um grande
acesso aos métodos anticoncepcionais, o que causou redução da família ao poder
de consumismo instituído pelo capitalismo.
A urbanização aflorou outra transformação na relações
humanas, o inicio da segregação social e econômica, o homem se organiza agora
em “ilhas”, como bairros destinados a comércio e residência, como também
subdivisões como bairros de classe baixa, média e alta.
Diante do contexto discorrido anteriormente, Estado e
estudiosos passam a centralizar seu objeto de estudo no crescimento
populacional e recursos naturais disponíveis. Marx afirma que apesar do
crescimento da população não atender às necessidades de produção capitalista é
desproporcional para sua absorção completa, ou seja, o mercado necessitava de
mais mão de obra para atender o crescimento da demanda de produção, porém não havia
recursos disponíveis para suprir as necessidades dessa população.
Fato que preocupa principalmente quando voltamos os olhos
para a questão dos países subdesenvolvidos, seu crescimento descontrolado
contradiz com os recursos disponíveis e seu desenvolvimento socioeconômico não
acompanha a explosão demográfica crescente.
Nos países desenvolvidos a preocupação se volta com a
formatação que se é dada ao trabalho. Allen Scott, da Universidade da
Califórnia, em uma conferência realizada n Brasil em 1990, expõe a forma que
estes países estão lidando com o fator migração. Expos sobre a exploração e
clandestinação trabalhista que ocorrera neste período, tirando proveito da
situação ilegal desses trabalhadores no país, empresas impunham postos de
trabalho burlando seus direitos e pagando salários relativamente muito baixos a
esta população, o que afetou indiretamente sua economia, já que contribuiu para
uma nova forma de pobreza que surgira em um território sem perfil para tal.
Considerando a necessidade de traçar um perfil do
crescimento demográfico, propôs-se o estudo quantitativo da população, assim, o
Estado foi aprimorando gradativamente suas técnicas e tecnologia para esta
avaliação, com o intuito de conhecer melhor sua população e empregar políticas
públicas como a construção de escolas, hospitais. A partir deste conhecimento
seria possível também, projetar previsões da média de crescimento da população
e assim, definir aumento, ou não, de taxas de impostos.
Se de um lado a urbanização trouxe benefícios como
aumento da qualidade de vida e redução do crescimento natural da população,
promoveu uma verdadeira pressão demográfica, deixando alguns espaços
demasiadamente saturados em detrimento de outros denominados “vazios
demográficos”. O que levou a homogeneização, ao invés de medidas regionalizadas
fundamentadas na formação sociocultural e racial da população, porém, apesar
dessas particularidades apresentaram resistência, foram de certa forma,
incorporadas a este espaço homogeneizante.
A população organiza-se então em espaços homogeneizados
conforme fomento do mercado mundial, mas mantendo suas tradições e a configuração
desses espaços que influirão na forma de exploração, integração e reprodução da
sociedade.
A persistência destas particularidades acentuam as
desigualdades sociais e raciais e, por sua vez, o poder político, segundo
Claude Raffestin, utiliza e manipula estas diferenças como estratégias de
exploração, fato evidenciado na discriminação espacial, constituída de
segregação e ilustrada na forma de Guetos, favelas, reservas, etc, ou na
discriminação educacional, que no ingresso à instituições de ensino disponibilizam
cotas diferenciadas conforme a formação étnico-racial.
Em suma, soma-se à homogeneização, um processo
hierarquizado, onde as segregações ocorrem a partir de diferenças sejam
culturais, raciais ou econômicas, estas diferenças criam contradições evoluindo
para lutas que contribuem de forma lenta e gradativa para a transformação da
sociedade em uma organização que seja capaz de conviver e respeitar as
diferenças e os direitos do próximo.
Trabalho perfeitamente elaborado, meus parabéns.
ResponderExcluirExcelente, muiito obrigada!
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ResponderExcluirMuito obrigado por ter me ajudado a passar de ano em geografia kkkkkk😂😂
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